Hoje eu caminho bem, sozinha,
passos curtos, passos largos. Não importa. Caminho no meu ritmo, à minha
maneira. Vejo os filmes que quero, com a roupa que quero, ajo como desejo.
Nenhum deles, nenhum “zinho, zinho” deles para me dizer o que fazer. O que é
bom, isso era tudo, tudo o que eu mais queria.
Queria também escrever um texto
assim, assim desse jeito onde repito uma palavra e emendo outro assunto sem que
eles me perturbem, me azucrinem ou queiram me fazer parar de digitar, cada qual
com seu motivo.
Hoje caminho só, caminho bem, caminho
com a liberdade, sua beleza e seu pesar. Sinto falta deles, de todos eles.
Sinto falta do primeiro que me
causou confusão. Não sabia o que tremia: joelho, pernas, coxas, cabeça ou
coração. Não sabia se falava: “Eu te amo” ou “Que tesão!”. Sinto falta do
violão, falta do miojo, dos pensamentos futuros, do imediatismo, da
intensidade, do toque que tremia até o fio de cabelo, falta do acreditar que
era para sempre, falta de desejar o para sempre, falta de achar que tinha ganho
na loteria. Sinto falta de mãos descobrindo corpos. Não sei se sinto falta dele
ou se sinto falta de mim, daquela desbravadora que com alguém acreditava que
poderia conhecer o mundo (mas sequer conheceu o próprio corpo). As pessoas
devem descobrir outras.
Sinto falta daquele que me amou
mais, me respeitou mais. Falta daquela calma, daquele meu lado de querer
carinho, dengo e amor. Falta das letras de músicas. Falta daquele cuidado, das
palavras certas, dos clichês baratos, da busca no fim da aula, de ter alguém
que seria para sempre. Sinto falta de ser princesa de alguém. Não sei se sinto
falta dele ou falta da minha coroa. Não é justo deixar alguém te amar sozinho.
Sinto falta também do outro,
daquele onde eu já sabia definir vontade de ter o abraço de bom moço e a mão
boba de cafajeste mas queria o abraço bom. Sabia que as coisas poderiam e
provavelmente acabariam, ele não combinava comigo, queria desbravar o mundo,
queria conhecer, viver... mas sinto falta do jeito dele, o lado independente,
de me querer fazer sair do ninho, minha ansiedade em voar e ser pega por ele em
queda livre. Sinto falta de não concordar com sua rebeldia e em contrapartida
invejar suas viagens, devaneios e jeito de amar a liberdade. Não sei se sinto
uma falta danada dele ou falta de mim, morrendo de vontade de caminhar em
retirada. Os opostos se distraem.
Sinto falta daquele que veio
depois, aquele que me tornou mulher, me colocou nos trilhos, me causou furor,
certeza, autoconhecimento, tesão, amor, calma e anulação, tudo junto. Sinto
falta daquele que me ensinou o que sei e tenho na vida, ele veio depois, não
necessariamente por último. Senti falta de ter dúvida, falta da minha vida,
falta de ser eu. Falta de não ser casal, sinto falta de não sentir falta. Ele
me fez sentir o mais alto e mais baixo de um relacionamento. Mas sua mão sempre
estava lá. Não sei se sinto falta dele ou da certeza. Deixei amizade somente
para amigos.
Sinto uma falta daquele que me
tirou do rumo, que transformou minha vida numa novela mexicana, com pimenta
jalapeño, chilli, choro agudo, mariachis e nome composto. Sinto falta até de
perder o rumo do dia quando o encontrava. Falta do borboletário que possuía de
hora para outra no estomago. Sinto falta até de me iludir. Falta de achar que
ele me queria de posse. Sinto falta de ter dúvidas. Não sei se sinto falta dele
ou da sensação de escolha. Achei melhor sair da seção de congelados, amor
próprio não faz mal a ninguém.
Daquele outro então, sinto uma
falta danada. Sinto falta dos e-mails, sms, cartas, “telegramas”, telefonemas
desde tão primórdios tempos digitais. Falta da ansiedade, falta de como o
primeiro beijo em alguém mesmo depois de tantos e tantos primeiros beijos e
pode parecer único. Sinto falta de conseguir abrir o coração rápido para alguém,
não conseguia, em contrapartida, esse tinha o poder inteiriço de me abrir as
pernas, a alma e a vida. Se não era amor, como dizem, era da mesma família.
Sinto falta de não poder ficar no mesmo cômodo dele sem ter vontade de lhe
sugar até o último esforço. Sinto falta da casualidade misturada com vontade...
Ai, ai, sinto falta de começar a misturar tesão e vício. Sinto falta de sentir
ele me despir com o olho. Sinto falta dele, mas não sei de verdade se sinto
falta dele ou da sensação que ele causava na minha vida. De casual basta a
cerveja do fim de semana, de dúvidas bastam as minhas, de joguinhos bastam os
aplicativos atuais.
Eu me perdi entre eles, fui
muitas com todos eles. Anjo para uns, demônio para outros. Sinto falta do que
já fui com todos eles, eu esperava, eu aguardava, eu queria algo maior, melhor
e mais intenso, mais bonito, mais marcante e arrebatador, fosse sentindo amor
ou tesão, eu esperava, eu sentia que eles esperavam também... fosse amor ou
tesão, como disse. Sinto falta de sentir... Hoje eu caminho bem, sozinha,
passos curtos, passos largos. Não importa. Caminho no meu ritmo, a minha
maneira. Sinto falta deles, falta de mim, falta de aprender. O que me incomoda
é pensar não sentir mais. Enquanto espero, juro... caminho bem.