terça-feira, 30 de abril de 2013

Amigos? Não!


Eu não quero sua amizade.
E não é por causa do seu jeito certinho, controlador, fofinho que seja a ser nojento de tanto procurar defeito nos outros.

Eu não quero sua amizade.
E não é porque você é bipolar, porque você não liga ou finge não ligar para mim...
Não é porque tenho a sensação de que não te conheço ou de que conheço demais.
Não é porque você é chato, tem até o riso certo, cabelo certo, cheiro certo.
Tudo exatamente cronometrado para viver.

Eu não quero sua amizade.
E não é porque me parece que você tem medo de assumir, de encarar, de enfrentar a vida.
Não é porque a sua zona de conforto me ignora. Não é porque eu choro por você.

Eu não quero sua amizade por que eu não sei ser sua amiga. Por que seu cheiro é perfeito, sua risada, seu abraço, seu apego,
essa novela mexicana... Por que quando você está por perto os problemas vão embora, tudo parece tão certo, exato... como você.
Eu não quero sua amizade por que eu não quero que você seja feliz se não for comigo. Por que eu não sei torcer para que você encontre namorada.
Por que eu não sei ser adulta e separar as coisas, te sorrir, perguntar se está tudo bem e não falar mais nada... Sem tremer, sem gelar, sem querer mais.
Eu não sei me aproximar sem te tocar, sem te sentir, sem te querer.
Eu não sei torcer para que seu domingo seja ensolarado, que sua vida seja de comercial de margarina.
E merecemos o melhor. Eu mereço, você merece.
Eu não quero sua amizade.

Eu não quero ser sua amiga e não é porque eu não te quero por perto, não é porque eu não te ame o suficiente. É por que eu quero mais.



  "E tenho ser lógica para entender minha própria confusão. Ser ao mesmo tempo o veneno e o antídoto. 
Se não era amor, Lopes, era da mesma família. Pois sobrou o que sobra dos corações abandonados. A carência. A saudade. A mágoa. Um quase desespero, uma espécie de avião em queda que a gente sabe que vai se estabilizar, só não sabe se vai ser antes ou depois de se chocar com o solo. Eu bati a 200Km/h e estou voltando a pé pra casa, avariada.
Eu sei, não precisa me dizer outra vez. Era uma diversão, uma paixonite, um jogo entre adultos. Talvez seja este o ponto. Talvez eu não seja adulta suficiente para brincar tão longe do meu pátio, do meu quarto, das minhas bonecas. Onde é que eu estava com a cabeça, Lopes, de acreditar em contos de fadas, de achar que a gente manda no que sente e que bastaria apertar o botão e as luzes apagariam e eu retornaria minha vida satisfatória, sem seqüelas, sem registro de ocorrência? 
Eu nunca amei aquele cara, Lopes. Eu tenho certeza que não. Eu amei a mim mesma naquela verdade inventada. Não era amor, era uma sorte. Não era amor, era uma travessura. Não era amor, era sacanagem. Não era amor, eram dois travessos. Não era amor, eram dois celulares desligados. Não era amor, era de tarde. Não era amor, era inverno. Não era amor, era sem medo. Não era amor, era melhor."

Martha Medeiros